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segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

IMPRESSÕES




deixei para trás
o medo, o desespero
vôo num tapete

***


uma hora: tic-tac-tic
voar faz muito barulho
ansiedade

***

chão macio e branco
por onde piso, daqui
não caio: assim será?

***

o azul e o branco
o vôo destes pássaros
criações de aço

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Pintura Japonesa



O “Tsunami” de Katsushika Hokusai
expressiva delicadeza de nuances
e robustez desta força da natureza.

KAMIKASE

Salto na linha do tempo
para o infinito dos mundos
encontrando seu sorriso
nas frases que beiram o
- precipício.

ONTEM

Intertexto com Hoje, de Pablo Neruda


Ontem, foi como uma taça cheia.
Foram ondas suaves, melódicas,
nos levando a este mar revolto
que nos ergueu em um beijo ardente.

Tremendo mergulhamos ávidos,
corpos trançados nesta incrível
dança dos amantes enredados.

Ontem nos entendemos mesmo!

Chegando ao limite, epiderme
espelhada na superfície
lisa de nossas almas, calma...

Bom é viver esta tempestade
e a calmaria, o depois, deitados,
música preenchendo a casa.
Tudo preparado para outra

festa, nova dança!

domingo, 11 de novembro de 2007

O SAPO



“croc-croc, croc-croc”

Começa a história do sapo
que vi na televisão.
Falava, o tal sapo, de um salto,
salto este tão alto
capaz de atingir a amada
inatingível - a lua.

Sapo doido, louco pela lua!
“croc-croc, croc-croc”
ele contava que ensaiava
ensaiava e o salto: nada.

Um dia, tristinho, no charco,
ele vê surgir, enorme,
em todo seu esplendor
a lua, como se fosse o próprio sol.

E, naquele momento,
num grande contentamento,
o sapo saltou, de olhos fechados,
o seu salto suicida.

Tão prodigioso o salto
e tão intenso o seu desejo,
que a lua, comovida,
abriu seus braços
e abraçou o sapo
tocando suave os lábios
do amante apaixonado
prometendo ser eternamente sua.

Cá comigo eu pensei:
este é o Príncipe dos Sapos!

(Publicado na Antologia de Poetas Contemporâneos nº 46 - CBJE)

domingo, 21 de outubro de 2007

DESEJO


Nesta noite insone e cheia,
detrás das portas fechadas,
ruelas e becos estreitos,
amantes trançam segredos.

Com o luar dos meus olhos
eu ilumino seu corpo.
As vestes pelo caminho,
o meu bailarino dança...

e os meus desejos desperta:
é a fonte do meu prazer,
gozo das minhas retinas,
meu total resplandecer!

(Publicado na Antologia de Poetas Contemporâneos nº 42 - CBJE)

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

TANGO ESPANHOL

Eis o que escrevo nesta madrugada
insone: um desabafo, meu noturno.
Eu aqui só e o sono(ingrato)me abandona.
Você lá com as moças de Espanha!

Eu e a noite patética do ciúme,
Você, o tango e as tais moças de Espanha.
Então, sobreveio o silêncio profundo:
De que amor estamos falando aqui?

Meu torto ciúme, de onde provém?
Você, os vinhos doces, tangos e moças?
Mas que amor é este frívolo e egoísta?

Vá! Que por minha vez, estou faminta,
preparada para alguém diferente,
um homem que conheça novas tintas,

- e não mais por você!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

COPACABANA EM MIM

Vivo Copacabana todo tempo.
Mesmo quando eu aqui não estava.
Foi assim sempre, vida zona-sul,
pele morena, olhos verdes, curvas

que acompanhavam as do calçadão,
Copacabana! Copacabana!
Aqui, o primeiro banho de mar,
segura, às costas do pai que tive.

No meu território, Babilônia
urbana, das mais variadas tribos,
jovens, adolescentes em bandos,

pelas ruas, nos bares, festa profana.
O primeiro beijo, desejo, amor,
hormônios na praia, Copacabana!

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

ESTORVO

passou por mim.
estabanado, esbarrou no meu céu
derrubando estrelas.


(Publicado na Antologia de Poetas Contemporâneos nº 43 - CBJE)

terça-feira, 9 de outubro de 2007

MARINAS



Inspirada na obra de José Pancetti



Meus olhos se detém no mar da tela
de Pancetti.

Eu mesma, sinto-me como uma de
suas marinas.

Uma paisagem ampla, larga, profunda,
na diagonal marcante da vida.
As cores? Vibram na luz de um sol
intenso – luz dos dias na Bahia.

Na alegria cotidiana, simples,
do pescador.

Dividimos, eu e o pintor, a paixão
pelo mar.

Nos meus soltos versos, simplicidade;
na minha poesia cores solares,
o cheiro do mar por vezes, neblina,
vencida pelo prazer do trabalho

- e da rima!

MANIFESTO

Inspirada no movimento de arte coletiva

imagem e palavra
materialização do momento
legado coletivo
música, grafite, impressão,
lentes, filmes e curtas;
arte contemporânea, visão
de muitos, improviso,
consistência urbana, instantâneo.
todos – todas as expressões,
nos muitos espaços das cidades
diversidade plural
singularidade do indivíduo
uma nova tendência!

domingo, 7 de outubro de 2007

PRESENTE

Homenagem ao poeta Cairo Trindade

A você eu ofereço
estes meus versos ritmados,
suingados, bem-humorados,
cheios e safados versos,

dos prazeres animados
concebidos e sonhados.
Até que estes escorram
por meus dedos, por meus poros

sem esforço, bem de leve,
alegres, muito versáteis.
Que bebamos grandes goles
nesta fonte, mesma verve!

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

CONTRA

por Renato Motta


contra capa
capa contra
eis que não encontro
questão gramática
dramática...
contra capa
é junto ou separado?
matemática ou sintática?


Renato Motta é historiador e poeta,
arquivista e amigo.

Ao poeta - GENTILEZA

Amo palavras gentis:
- Gentileza, gentileza,
poeta da rua, andarilho,
vadio, de palavras soltas...

Essa poética urbana:
necessidade do amor,
total urgência da paz,
sem sutilezas, pretextos.

Merece aquela homenagem
quem, por tal delicadeza,
coloriu esta cidade.

Numa via cinza e feia,
com uma real gentileza.
Ao poeta, reverências!


(Publicado na Antologia de Poetas Contemporâneos nº 41 - CBJE)