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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Encantamento...








Dança a mulher em preto e branco.
Faz parte de sua natureza
como parte desta paisagem.
Ela, o vento, as folhas e essa terra
num mesmo e único movimento,
criação de uma rara atmosfera
de finíssimo encantamento.







Arnold Genthe, Anna Duncan, 1926
originally uploaded by Gatochy

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

CRÔNICA SOBRE UMA GUERRA ANUNCIADA



O dia mal começa e eu já estou na batalha.
Antes do trabalho o consultório do dentista. O que para mim (como para a grande maioria das pessoas), é bastante desconfortável. Apenas uma porta me separa da cadeira de torturas inimagináveis e da sempre impressão esquisita de que todos os dentistas são sádicos! O que, claramente, não é real, apenas fruto do medo e da imaginação, sempre fértil.
Bem, como ia dizendo tentando não me concentrar no zumbido nojento daquele instrumento peculiar, provavelmente inventado no período da Inquisição, peguei uma revistinha para ler, sabe daquelas com muita foto e pouco conteúdo. Distraída li o seguinte título: “Como enlouquecer um homem”, hã... ambíguo título, afinal, por qualquer ângulo que você leia, não me parece uma tarefa muito difícil.
Interessadíssima fui investigar do que se tratava a tal matéria: cinco homens, claro, especialistas(?) em seu próprio universo dão dicas a nós mulheres (pobres de nós!) de como conquistar o tão cobiçado – MACHO.
Dei logo de cara com a seguinte frase: “Olhe no olho do adversário e diga: meu amor, depois de mim, o que será de você?. Homem se deslumbra com mulher que manda bem.” Lusa Silvestre (publicitário e editor da (1)Revista Criativa).
Alguém notou algo de estranho nesta citação? Ou sou eu a estranha?
Neste momento eu esqueci do dentista, do meu medo, do zunido do instrumento de tortura e me concentrei nas estranhezas que percebi.
Primeira, olho no olho do adversário, significa que estamos enfrentando um adversário, ou seja, um inimigo, um antagonista.
Segunda, meu amorrrrrrrrrrr... (me lembrou logo a caricatura do Clodovil no Pânico na TV!). Fora isso, depois de mim, o que será de você?. Criaturinha, você não notou que vivemos a partir do outro e não de nós mesmos? Com desprezo dizemos ao nosso opositor que ele não vive sem o jogo, a batalha, a contenda. Afirmamos que sem um o outro não é NADA.
Terceira e última observação: Homem se deslumbra com mulher que manda bem, o que em minha tradução livre significa: o inimigo rende-se ao seu algoz!
Interessante perceber que pessoas ainda querem, em pleno século XXI, uma relação entre desiguais, nenhuma solidariedade ou amizade ou amor.
É só abrirmos uma revista (feminina) para entendermos que os clichês servem mesmo para perpetuar uma história do século passado, a velha guerra (dos sexos) anunciada, agora, com prazer. No fundo é isso que desejamos? Anos de luta por igualdade jogados fora, numa ante-sala de dentista!

(1) Revista Criativa, agosto de 2006, edição 208.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Sábio Manuel Bandeira...






"A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros, vinha da boca do povo, na língua errada do povo, língua certa do povo. Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil..."

domingo, 3 de fevereiro de 2008

NAVIO FANTASMA




Blém, blém! O sino avisa, chama agora
toda gente da aldeia para ver, no mar,
o Navio Fantasma próximo deste cais.

- Navio Fantasma, onde está seu capitão?
Perguntam as crianças cheias de excitação.
Ao que respondem os maléficos espectros:
o Senhor Capitão? Entornou todo o rum

perdendo-se pelos mares de Aragão!
- Ai, ai Senhor Capitão!
errante, o navio segue seu curso, lento,
vagando nesses mares de assombração.

- Ai, ai Senhor Capitão!

Saga cruel das mulheres que no porto esperam
temerosas, por seus homens – lobos do mar.
Blém, blém! Repetia o sino, enquanto o navio,
sem paz, atavio em meio as sombras, neblinas,
afastava-se, mar adentro, mais e mais...

(Publicado na Antologia de Poetas Contemporâneos nº 44 - CBJE)